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sábado, 10 de março de 2012

... :/



Fernando Pessoa - parte IV
FERNANDO PESSOA ELE-MESMO



Tudo quanto penso,

Tudo quanto sou

É um deserto imenso

Onde nem eu estou.A tradução desta ruptura entre o eu-lírico e o eu-biográfico aparece no célebre Autopsicografia, em que a criação poética aparece como uma criação ficcional (“o fingimento”):

O poeta é um fingidor.

Finge tão completamente

Que chega a fingir que é dor

A dor que deveras sente

E os que lêem o que escreve,

Na dor lida sentem bem,

Não as duas que ele teve,

Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda

Gira, a entreter a razão,

Esse comboio de corda

Que se chama coração.

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